No início do século XX definiu-se o Quociente Intelectual (QI) como uma forma de medir a inteligência racional, as habilidades e competências das pessoas. Logo, em meados da década de 90, aumentou-se a abordagem, incorporando-se a Inteligência Emocional (IE), que agrega fatores comportamentais e emocionais ao pensamento associativo. Além da razão, une-se a relação.

Ultimamente, através de pesquisas científicas, fala-se de Inteligência Espiritual, localizada no chamado “ponto de Deus” no cérebro, acionado quando passamos por experiências espirituais, ao buscarmos por significados e valores para a vida.
Independentemente de aspectos científicos e neurológicos, o ser humano há milênios desenvolve a sua espiritualidade, cada vez menos presente em nosso cotidiano, como se o avanço tecnológico e a busca incessante por conquistas materiais tivessem como consequência irremediável a nossa atrofia espiritual.
Dana Zohar, autora do livro “QS – Inteligência Espiritual”, afirma que:
"A inteligência espiritual coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos numa cultura espiritualmente estúpida”
ou seja, temos baixa capacidade em dar um sentido mais amplo e profundo aos pensamentos e comportamentos, de equilibrar nossa razão e emoção com o mundo exterior, de harmonizar valores, atitudes e propósitos de vida.
No mundo corporativo, muitos dos problemas de resultados conseguem ser aprimorados com conhecimentos aplicados, indicadores coerentes, planos estratégicos fundamentados, entre tantas outras ferramentas disponíveis. Mas isto não forma uma identidade. As insatisfações de muitos colaboradores costumam estar relacionados a fatores intangíveis, tais como empatia, motivação, propósito de trabalho, respeito e formas de liderança.
Vivemos em épocas de lucro imediato, de grande consumismo, de ostentação social, de materialismo, arrasando o meio ambiente a aumentando as desigualdades sociais. Naturalmente, as características associadas a este caminho, são o estímulo, especialmente entre as lideranças, de vaidades, egoísmos, ambições, invejas e orgulhos, fatores que pouco contribuem para a aproximação entre os colaboradores e que, muito menos, fomentam a busca pela criatividade, pelo auto conhecimento e pelo desenvolvimento humano, fatores fundamentais na formação de uma cultura ou identidade.
A pandemia também mostra que “estamos supervisores”, que “estamos gerentes, diretores, CEOs”, que com certeza, mais tardar com o avanço de nossa idade, iremos perdendo cada vez mais protagonismo neste pobre jogo de cena. O que nos define são as nossas virtudes conquistadas e não as metas alcançadas, os cargos, os discursos vazios, a quantidade de pessoas sob nossa responsabilidade, o carro da empresa e os relacionamentos políticos.
Ao final de uma vida, pouco disto terá importância. Será entre você e Deus.
“As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. Quando educarmos para cooperarmos e sermos solidários uns com os outros, nesse dia estaremos a educar para a paz.” (Maria Montessori)
Grandes líderes, de Jesus a Buda, de Madre Tereza a Wangari Muta Maathai, de Gandhi a Mandela, tem em comum, além do (auto) conhecimento e preparo, uma desenvolvida inteligência espiritual, pois exemplificaram a humildade, a caridade, a não violência, o respeito, o perdão, sempre a serviço do próximo. São valores independentes de uma religião, pois são comuns a quase todas, desde que a humanidade se aventura pela vida. São também perfeitamente aplicáveis ao mundo corporativo, apesar de não figurarem em nenhuma política, missão ou valor das empresas.
É possível ser humilde e firme, é possível ser pacífico e lutar, é possível servir e liderar.
Inteligência espiritual não é nenhuma novidade, é o incessante conhecer-se a si mesmo, o combate às nossas más tendências e o aprimoramento das virtudes. A evolução espiritual é individual e intransferível e só pode ser realizada por nós mesmos. Ninguém, por mais que nos ame, poderá fazê-lo por nós.
A certeza daquele que se decide a percorrer este caminho, tão à contramão de uma sociedade imediatista, é a de que, quanto mais evoluídos formos, mais felizes seremos. E não é esta, justamente, a aspiração de todo ser humano?
Hendrik Wernick
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